Esqueça a ideia de que as chapadas brasileiras são lugares intocados, de difícil acesso e distantes de tudo e de todos. A maioria segue essa regra — é verdade —, mas também existem exceções. A dos Guimarães é a prova de que você não precisa ir muito longe para ver paredões imponentes, nadar em dezenas de cachoeiras e entrar na atmosfera mística.
Em comparação com as outras, ela é a mais fácil de chegar. Fica só a 70 km de Cuiabá (MT), pertinho da infraestrutura de cidade grande. Em extensão, também é a menor de todas. Mesmo assim, não fica muito para trás no quesito atrativos. Vá tranquilo porque não faltam programas para incluir no roteiro. São tantos mirantes, cachoeiras e opções de o que fazer na Chapada dos Guimarães que dá para agradar até quem não é muito fã dos perrengues de destinos de natureza.
Em 1989, foi criado na região o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, para proteger e preservar os recursos naturais que existem por ali. É dentro do parque que hoje ficam os principais atrativos turísticos. Cuidado para não confundir: Chapada dos Guimarães também é o nome da cidade que funciona como base para os turistas. É pequenininha, com aquele jeito simpático de interior.
Ah, e não estranhe se ouvir por aí que a representante mato-grossense das chapadas é a “menos roots” de todas. Realmente, é verdade. Mas isso não é algo necessariamente ruim. Muito pelo contrário. Além de ficar perto de um centro urbano, ela também surpreende com suas belezas naturais e não exige grandes caminhadas ou longos trechos de estrada para chegar aos principais atrativos. Para quem viaja com crianças, por exemplo, esse é um ponto positivíssimo.
Aqui, vou dar dicas e contar para você tudo o que precisa saber para planejar a sua viagem e aproveitar ao máximo a natureza e vibe mística da Chapada dos Guimarães.
CLIMA NA CHAPADA DOS GUIMARÃES: QUANDO IR
Num geral, sempre faz calor na Chapada dos Guimarães. De noite a temperatura cai um pouco, mas nada que um casaquinho não resolva (a não ser no inverno, quando às vezes pode chegar a menos de 10 °C). Os moradores locais brincam que os termômetros na Chapada sempre marcam 5 °C a menos que os de Cuiabá. Claro que não é uma regra, mas a na prática é mais ou menos isso que acontece mesmo.
- De dezembro a março, costuma chover bastante. Como isso pode atrapalhar as trilhas e dificultar os deslocamentos, melhor evitar;
- De abril a junho, quase não chove e as temperaturas são mais agradáveis para caminhar debaixo do sol;
- Em julho e agosto, pode ser que você encontre neblina. Não é sempre que acontece, mas vá sabendo desse risco. Às vezes entra uma frente fria e as temperaturas caem bastante, mas a friaca não costuma durar muitos dias;
- Em setembro, chove pouco e as temperaturas começam a subir de novo. Há possibilidade de queimadas (o que vale para toda a época de seca);
- Em outubro e novembro, as chuvas já voltam a aparecer. Mas, como faz calor, dá para aproveitar os banhos de cachoeira.
Quer fugir das chuvas e encontrar temperaturas um pouco mais amenas? A melhor época para ir para a Chapada dos Guimarães é de abril a setembro, no período de seca. É mais garantido que você vai encontrar tempo firme e boa visibilidade nos mirantes.
Como a Chapada está bem pertinho de Cuiabá, em fim de semana e feriado tudo costuma ficar lotado. Se tiver flexibilidade de agenda, é melhor programar sua ida para lá durante a semana (fora de período de férias escolares, de preferência). De segunda a sexta, os atrativos ficam mais vazios e você consegue dar um mergulho nas cachoeiras sem ficar dividindo espaço com tanta gente.
COMO CHEGAR E SE LOCOMOVER NA CHAPADA DOS GUIMARÃES
O ponto forte da Chapada dos Guimarães é justamente que ela fica pertinho de Cuiabá (MT). São menos de 70 km de distância entre as duas cidades. Pegando a BR-251, não demora muito e você já consegue avistar os primeiros paredões do Parque Nacional.
Existe uma linha de ônibus que sai de Cuiabá e leva até a Chapada, num percurso de mais ou menos um hora. Quem opera é o Consórcio Metropolitano de Transportes (CMT).
Como o trecho da passagem de ônibus sai por menos de R$20, muita gente acha que é essa é a opção mais vantajosa. Realmente, pode ser uma saída para quem não quer ficar dirigindo. Mas saiba que você vai precisar estar acompanhado de um guia para fazer quase todos os passeios — e os guias costumam cobrar bem mais caro para ir com o carro deles. Se colocar na ponta do lápis, alugar um carro em Cuiabá vale mais a pena (a não ser que você vá em grupo e divida a conta entre o pessoal).
Sem dúvidas, o melhor jeito de circular lá é de carro. Pela experiência que tive, eu sinceramente nem cogitaria qualquer outra opção. Com um veículo de passeio comum dá para chegar tranquilamente até a maioria dos atrativos. Um ou outro vai exigir um carro maior, estilo 4×4— isso se as condições das vias de terra não estiverem tão boas. Em último caso, dá para fechar esses passeios individualmente e ir no carro do próprio guia.
QUANTO TEMPO FICAR NA CHAPADA DOS GUIMARÃES
Para um roteiro incluindo todos os “obrigatórios”, recomendo ficar na Chapada dos Guimarães pelo menos 3 noites. É o tempo que você vai precisar para conhecer os mirantes e as cachoeiras mais famosas.
Na primeira vez que fui para lá, fiquei menos do isso e voltei para casa com um gostinho de quero mais. Se pudesse, teria acrescentado mais dois ou três dias só para fazer os trekkings do Vale do Rio Claro e o do Morro São Jerônimo. Mas a verdade é que a Chapada tem tantos atrativos que qualquer tempo por lá vai parecer pouco.
Lógico que o bate-volta a partir de Cuiabá também é uma opção. Mas é aquela história: você vai precisar escolher a dedo o que fazer e, ainda assim, não vai conseguir conhecer muita coisa. Algumas agências e operadoras oferecem tours nesse esquema.
Se puder, já aproveita que está na Chapada e segue viagem até o distrito de Bom Jardim, em Nobres. São só duas horas de estrada até encontrar rios de água azul-turquesa e cheios de peixinhos. Vale a pena.
Não deixe de ler o nosso post com todas as dicas de Nobres.
ONDE SE HOSPEDAR NA CHAPADA DOS GUIMARÃES
A rede hoteleira da Chapada deu um boom depois da Copa do Mundo de 2014 e ganhou várias hospedagens charmosinhas. Hoje existem opções para todos os gostos e bolsos, perto e longe do centrinho.
Pousada do Parque
É a única que fica nos limites do Parque Nacional. A vantagem é que você já está mais perto de alguns dos principais atrativos. Tem só 8 acomodações, que são pequenas, mas confortáveis. Pertinho da pousada, existem trilhas, cachoeiras e uma torre de observação com vista da região. À noite os hóspedes não precisam se deslocar até o centrinho para jantar, já que a própria pousada conta com serviço de restaurante.
Pousada Penhasco
A estrutura está mais para a de um pequeno resort do que para a de uma pousada. Tanto é que a área de lazer tem 6 piscinas, sendo 4 aquecidas. O restaurante também serve almoço e jantar. O café da manhã (que já está incluso na diária) é super variado e completo. Os quartos têm TV a cabo e acomodam até 5 pessoas. Alguns têm vista dos paredões da Chapada. Se acordar cedinho, você consegue ver o sol nascendo atrás dos platôs.
Pousada das Orquídeas
É um dos melhores custo-benefício da cidade e fica a menos de 5 minutos da pracinha central. São pouquíssimos quartos, com tudo muito limpinho e bem cuidado. Tem redes para quem quer relaxar depois de um dia de caminhada. O jardim é um charme só.
O QUE FAZER NA CHAPADA DOS GUIMARÃES
As grandes estrelas da Chapada dos Guimarães são, sem dúvidas, os mirantes e as cachoeiras. Boa parte dos atrativos fica dentro da área do Parque Nacional, mas também há passeios fora, em propriedades particulares.
Você vai precisar de um guia para te acompanhar em quase tudo. É uma regra estipulada pela administração do destino e a que todos os turistas precisam seguir. Neste link, dá para ver uma lista com todos os nomes e contatos dos condutores autorizados pelo Parque Nacional.
Os mirantes, a cachoeira Véu de Noiva, a dos Namorados e a Cachoeirinha são exceções. Esses você consegue conhecer por conta.
Véu de Noiva
É a cachoeira cartão-postal da Chapada (quiçá de todo o estado do Mato Grosso). Depois de um acidente em 2008, o acesso ao poço foi fechado. Hoje só dá para observar os mais de 80 metros de queda d’água de um mirante que fica a 550 metros do estacionamento do Parque Nacional. É de lá que os turistas fazem aquela foto clássica, com a cachoeira e o paredão de pano de fundo. Com sorte, você consegue ver algumas araras vermelhas sobrevoando o vale.
Circuito das Cachoeiras
O passeio passa por piscinas naturais e seis cachoeiras, todas dentro do Parque Nacional (não esqueça de agendar com o guia com antecedência). A caminhada não é das mais difíceis, mas é feita o tempo todo debaixo do sol, num percurso que dura mais ou menos 5 horas. Por isso mesmo, é bom levar água, lanchinhos, chapéu e protetor solar. No meio do caminho, as paradas para banho ajudam a revigorar antes de retomar o passeio.
Cidade de Pedra
Saindo do centrinho, você vai precisar contratar um guia e rodar cerca de 25 km de carro (um 4×4, de preferência, por causa do terreno irregular) para chegar lá. Os mirantes ficam na beira dos paredões, de onde dá para avistar todo o Vale do Rio Claro e ter uma panorâmica de boa parte dos platôs da região. Na minha opinião, um dos melhores lugares para admirar e entender a dimensão da Chapada.
Mirante Alto do Céu
Outra opção para quem quer contemplar a natureza é o Mirante Alto do Céu. Como está na Serra do Atmã, um dos pontos mais altos da Chapada, garante um visual especial da região. A trilha é autoguiada e acessível, num percurso de poucos minutos de caminhada. A entrada é paga (R$ 20) e muita gente usa o espaço do mirante como locação para fotos. No fim de tarde, perto do pôr do sol, é quando fica mais movimentado.
Caverna Aroe Jari e Lagoa Azul
Se quiser conhecer as cavernas da Chapada dos Guimarães, não deixe de fazer esse circuito na Fazenda Água Fria. Ela está a 45 km do centrinho, fora da área do Parque Nacional. As caminhadas costumam ser feitas de manhã, sempre com o acompanhamento de um guia. O percurso passa pela Lagoa Azul, por algumas quedas d’água e pela Aroe Jari (a maior gruta de arenito do Brasil).
Travessia e trekking até o Morro São Jerônimo
Como você já deve ter percebido, quase todos os atrativos da Chapada dos Guimarães são acessados por trilhas. A maioria delas é curta e não exige grandes esforços físicos. Mas também existem opções para quem gosta de caminhadas de maior duração.
Para chegar ao Morro São Jerônimo, um dos pontos mais altos do Parque Nacional, o visitante precisa encarar uma trilha de mais ou menos seis horas, com trechos de subida, descida e escalaminhada. A vista compensa o sacrifício.
Também há a opção de fazer o que os guias chamam de “Travessia”, que cruza o Parque Nacional. São mais de 20 km de caminhada, divididos em dois dias. No primeiro, o percurso passa pelo Circuito das Cachoeiras, pelas Cachoeiras de Época e uma pequena caverna. O pernoite é na Casa do Morro. No segundo, o roteiro inclui a subida do Morro São Jerônimo e a Trilha Histórica do Carretão.
Complexo Turístico da Salgadeira
Depois de um tempo fechado, foi reaberto em 2018. Fica no meio do caminho entre Cuiabá e a Chapada. Tem cachoeiras para banho e estrutura para alimentação. É um dos atrativos mais populares, já que fica mais perto da capital e muita gente vai em esquema bate-volta. Na minha opinião, vale a pena só se você estiver com tempo sobrando na Chapada. Se a agenda estiver apertada, não perde muito em passar batido.
ONDE COMER NA CHAPADA DOS GUIMARÃES
Apesar de pequenininha, a cidade oferece boas opções gastronômicas, de todas as faixas de preço. A maior parte dos restaurantes e bares da Chapada fica na região do centrinho, mas nem todos abrem durante a semana. Algumas pousadas, como a Penhasco e a Atmã, também oferecem almoço e jantar para não-hóspedes.
Morro dos Ventos
É um dos restaurantes mais procurados da Chapada. O motivo é simples: está localizado pertinho da borda do paredão. Os visitantes podem aproveitar o visual enquanto provam as receitas típicas do menu. A galinhada e o arroz Maria Isabel, servidos em panela de ferro, são deliciosos.
Margherita Pizzaria
Fica bem pertinho da praça central. O salão não é muito grande, mas o ambiente é aconchegante. As pizzas são gostosas, com massas bem fininhas. Vale a pena pelo custo-benefício.
Bistrô da Mata
Também é para quem comer curtindo a paisagem, num clima charmosinho. Só abre de sexta, sábado e domingo. Se for para o jantar, é bom ligar e reservar antes. Aos domingos funciona em esquema de buffet, cobrado por pessoa.