Uma dúvida comum na hora de planejar uma viagem de inverno na Europa ou em outros destinos tipicamente frios nessa época do ano, como o Canadá, Estados Unidos e Patagônia, é o que levar na mala. E principalmente: como se vestir no frio extremo!
A verdade é que como o Brasil possui clima predominantemente tropical, não estamos muito habituados a nos vestir para o frio extremo. Quem é do sul até pega temperaturas mais baixas durante o inverno, mas elas raramente ficam abaixo de zero. Por isso, é até difícil encontrar roupas adequadas para comprar.
Por experiência própria, posso dizer que a roupa errada pode estragar uma viagem. E, por outro lado, uma boa roupa de inverno faz o frio parecer algo insignificante. Na Noruega existe um provérbio que diz: “Não existe mau tempo, apenas roupas ruins“. Os noruegueses sabem o que dizem!
Após apanhar e pesquisar muito, finalmente consegui chegar no kit ideal de sobrevivência para o frio extremo (que funcionou até nos -30º que peguei quando morei na Lapônia). A seguir, vou te contar tudo o que funciona e dicas para economizar na hora de preparar a sua mala de inverno.
COMO SE VESTIR NO FRIO EXTREMO: O MITO DA CEBOLA
Uma recomendação geral que se encontra ao pesquisar sobre como se vestir no frio extremo é usar o “método da cebola”. O método da cebola consiste, basicamente, em se vestir em várias camadas. Em linhas gerais: você usa quantas camadas forem necessárias para se manter aquecido num ambiente frio e vai tirando as camadas na medida em que entra em ambientes mais quentes (ex: um restaurante com calefação).
O método não é de todo errado: de fato, é preciso se vestir em camadas. O grande erro é usar muitas peças e, principalmente, sem nenhum critério. Muitas peças pesam no corpo, restringem a movimentação e ainda podem te fazer suar. E aqui já fica a primeira dica: um corpo suado no frio é um corpo congelado!
Por isso, as camadas devem ser bem pensadas e usadas estrategicamente, já que cada uma tem uma função bastante específica.
COMO SE VESTIR NO FRIO EXTREMO: BLUSAS
Falando em camadas, os membros superiores são os que mais exigem delas na hora de se vestir no frio extremo. Via de regra, elas serão três. Mas dependendo do frio, podem ser adicionadas mais peças (sempre na camada de aquecimento).
Primeira camada: segunda pele
A primeira camada de roupa serve, basicamente, para manter o corpo seco e a respirabilidade da pele.
Ao vestir peças de roupas quentes e fazer qualquer atividade física, o corpo tende a suar. No frio extremo, essa umidade é resfriada rapidamente e prejudica a manutenção do calor do corpo.
Por isso, as peças chamadas de segunda pele são as suas maiores aliadas no combate ao frio! Mas antes de comprar qualquer peça que você ver pela frente, é preciso se atentar a alguns detalhes:
Composição do tecido: fuja das peças com cotton/algodão na composição, já que o material retém a umidade ao invés de expulsá-la.
O rei dos tecidos aqui é a lã merino, que além de cumprir a função principal, também ajuda no aquecimento e evita odores – mas também é muito caro.
Peças mais modernas e esportivas usam materiais sintéticos, como o poliéster, e podem incluir funções extras, como aquecimento, proteção anti-odor e antibacteriana.
Tamanho: a segunda pele precisa ficar bem rente ao corpo para cumprir a sua função. Por isso, é importante observar a modelagem para não comprar nada largo. Mas atenção pra não usar nada tão apertado também, pois isso pode prejudicar a mobilidade.
Peças compridas: parece meio óbvio dizer que as peças precisam ser longas, mas o fato é que muitas blusas segunda pele são um tanto curtas. Na prática, elas costumam ficar subindo na cintura e desprotegendo costas e abdômen.
Segunda camada: aquecimento
A segunda camada é a que realmente vai promover o aquecimento do corpo.
Nessa camada pode entrar um suéter de lã, uma fleece ou uma jaqueta de plumas/espuma. Cada blusa oferece um nível de aquecimento, então procure algo adequado para as condições que você vai enfrentar.
Dependendo do clima, você pode adicionar duas peças na segunda camada. Mas atenção para o peso e a mobilidade!
E aqui vai uma dica: mesmo no frio extremo, você pode sentir muito calor ao fazer uma atividade intensa ou mesmo entrar num ambiente aquecido, como um restaurante. Para evitar ficar suando, o ideal é optar por blusas que possuam aberturas com zíper ou botões para serem abertas com facilidade.
Uma outra questão para se levar em conta é evitar peças largas demais, pois elas podem permitir a passagem indesejada de vento.
Terceira camada: corta vento
Quem nunca saiu quentinho de casa, com um belo suéter de lã, e quase congelou no primeiro sopro de vento? De nada vai adiantar usar roupas quentes se o vento gelado passar pelos tecidos.
Por isso, a terceira camada serve para fornecer isolamento. Basicamente, ela vai te proteger do vento. Na hora de praticar esportes de inverno, como ski e snowboard, ou se aventurar na chuva ou na neve, também é necessário que essa camada seja a prova d’água ou, no mínimo, hidrorepelente.
Na hora de escolher uma jaqueta, é importante procurar uma peça com capuz (se tiver pelinhos sintéticos, melhor ainda), punhos e elásticos para garantir proteção completa em climas extremos.
Essa última camada pode ser apenas uma parca ou também incluir uma camada de aquecimento (embutida ou não). O que vai definir qual é a melhor jaqueta de inverno são as condições climáticas que você pegará.
Para se ter uma ideia: nos -30º C na Lapônia, eu usava uma corta-vento com aquecimento embutido (plumas) + fleece + segunda pele. Deu tudo certo!
COMO SE VESTIR NO FRIO EXTREMO: CALÇAS
Aqui, as regras anteriores continuam valendo, com a diferença de que costumamos movimentar mais as pernas e sentimos menos frio nelas. Por isso, não é necessário adicionar tanto volume, até para não perder a mobilidade.
Para manter as pernas quentes e livres, procure vestir uma boa segunda pele e uma calça com resistência ao vento (fuja do jeans!).
Calças de couro ecológico com forro peluciado cumprem bem a missão para atividades mais urbanas e em dias em que o clima está mais ameno. Mas para atividades esportivas, muita neve, vento ou frio extremo, opte por calças com função corta-vento e resistentes a água, como as calças de ski. E, se ela não possuir forro embutido, pode ser necessário incluir mais uma peça intermediária.
COMO SE VESTIR NO FRIO EXTREMO: ATENÇÃO ÀS EXTREMIDADES
As extremidades do corpo são as que mais sofrem com o frio extremo. Como a circulação do sangue nos pés e nas mãos é menor, esses membros perdem calor com muita facilidade.
E é aí que mora o perigo! Muitos acidentes com frio acabam acontecendo justamente pela desproteção dessas áreas. Em casos leves, podem gerar lesões na pele. Já em casos mais graves, podem causar a perda de membros ou até coisa pior. Por isso, jamais menospreze o frio nos pés e nas mãos!
A bota de inverno ideal
As botas casuais de couro podem até quebrar o galho em um ambiente urbano durante a viagem. Mas quando as temperaturas baixam de verdade e, principalmente, quando há neve no chão, elas não só vão te deixar na mão como vão fazer todas as outras peças do corpo parecerem inúteis. Afinal, é impossível se manter quente com os pés congelados.
O principal problema das botas casuais é que elas não são impermeáveis e os solados costumam ser muito finos.
Quando as temperaturas estão baixas, qualquer umidade é imediatamente resfriada. E quando o solado é fino demais e/ou de material não isolante, os nossos pés acabam absorvendo a temperatura do chão.
Basicamente, a bota ideal para o frio extremo precisa ser quente, isolante e impermeável.
Normalmente, as fabricantes das botas de inverno costumam trazer informações sobre a temperatura suportada ou gramatura de isolamento térmico. Para entender a gramatura de isolamento, tenha os seguintes valores em mente:
- 100g de isolamento = até -20º C;
- 200g de isolamento = até -32º C; e
- 400g de isolamento = até -40º C.
Outra questão para se ater na hora de comprar uma bota de inverno, é garantir que ela não seja muito justa.
Primeiro que você provavelmente usará uma meia grossa. Além disso, também é preciso que haja espaço para circular um pouco de ar, que é isolante térmico. Por fim, a bota não deve prender a circulação sanguínea. Por isso, se for necessário, use até um número maior.
Invista em boas meias de inverno
Meias ruins são capazes de estragar uma boa bota de inverno, enquanto meias boas podem salvar uma bota mais ou menos. Se você puder investir um pouco mais em apenas um item da sua mala de inverno, não hesite: escolha as meias!
Boas meias de inverno aquecem os pés ao tempo que evitam que eles fiquem úmidos. Por isso, o primeiro ponto para ficar atento é a sua composição: jamais use uma meia de algodão/cotton no frio extremo, já que é um material que retém a umidade. Infelizmente, a maioria das meias de treino são de algodão e, por isso, não são boas para essas condições. Novamente o melhor material é a lã, mas alguns materiais sintéticos também fazem um bom trabalho.
Outra dica importante é não vestir três meias de uma vez achando que os seus pés ficarão mais quentes. Nesse caso, qualidade é melhor que quantidade! Uma meia grossa ou até duas meias (uma fina por baixo e uma grossa por cima) cumprem a função. Além disso, é importante que as meias não prendam a circulação e deixem espaço para um pouco de ar no interior da bota.
Não menospreze as luvas
Assim como os pés, as mãos perdem calor com muita facilidade. Mas, para piorar, é mais fácil deixar as mãos totalmente desprotegidas, principalmente na hora de tirar uma foto, mexer no celular ou manusear qualquer outra coisa.
E a melhor maneira de proteger as mãos no frio extremo é usando duas luvas.
A primeira servirá como segunda pele. Ela pode ser de lã ou de outro material que também promova aquecimento. A dica é procurar por luvas com sensores nos dedos indicadores, assim você poderá usar o touch screen do seu celular ou câmera sem precisar tirá-la. Mesmo sozinha, quando aos mãos estiverem nos bolsos protegidas do vento, ela já vai ajudar muito no aquecimento.
Já a segunda luva irá permitir que as suas mãos saiam dos bolsos em ambientes externos. Ela é indispensável para a prática de atividades esportivas, como ski, snowboad ou snowmobiling, mas também será útil para qualquer atividade externa, seja uma simples caminhada ou uma caçada de aurora boreal.
Essa segunda luva também vai ajudar no aquecimento, mas a sua principal função é a corta vento. As luvas do tipo concha (sem separação entre os dedos) protegem e aquecem mais, mas também limitam um pouco a mobilidade. Escolha a que você se adaptar melhor.
COMO SE VESTIR NO FRIO EXTREMO: PROTEJA A CABEÇA
Ao contrário do que acontece nas mãos e pés, o fluxo de circulação sanguínea na cabeça e pescoço é alto. E o pescoço, em especial, é uma área que costuma ser bastante negligenciada – principalmente pelos homens.
O que acontece é que por ser uma área de maior circulação sanguínea, a nossa resistência ao frio nessa região aparenta ser maior. O problema é que, pelo mesmo motivo, o ar externo gelado acaba refrigerando o sangue em circulação e baixando a temperatura corporal. Diz-se, inclusive, que é possível perder até 20% do calor do corpo através da cabeça.
Por isso, é muito importante manter o pescoço e a cabeça (principalmente as orelhas) sempre bem protegidos.
Quanto ao pescoço, no frio extremo eu particularmente acho mais eficaz usar golas fleece bem ajustadas, mas os cachecóis também funcionam. Já em relação aos gorros, a minha dica é optar por modelos de tricô com a trama mais fechada e, de preferência, forrados ou com uma dobra – evitando a passagem de vento. Para a prática de esportes ou atividades com muito vento, também pode ser interessante adicionar uma balaclava.
E já que você provavelmente usará a mesma jaqueta durante toda a viagem, levar algumas opções de gorros e cachecóis na sua mala de inverno é a maneira mais fácil de diversificar o look. Assim, ao olhar as suas fotos, não parecerá que a sua viagem de quinze dias durou apenas um.
DICAS PARA ECONOMIZAR NA HORA DE PREPARAR A MALA DE INVERNO
Você planejou toda a sua viagem de inverno na Europa, comprou as passagens, reservou os hotéis e passeios e, na hora de preparar a mala, percebeu que as roupas que terá que comprar custam mais que a viagem inteira!
A verdade é que roupas de inverno custam caro. E, pior, se você não mora ou viaja com frequência para lugares frios, não aproveitará várias delas.
Por isso, a minha primeira dica para economizar na hora de montar uma mala de inverno para o frio extremo é aproveitar tudo o que você já tem. Depois, comprar ou emprestar as peças que você poderá aproveitar no dia-a-dia, como a segunda pele, suéter, meias, luvas, gorros e cachecóis.
E, por último, antes de gastar com as peças mais caras (normalmente as últimas camadas e botas de neve), considere recorrer a alguma das seguintes alternativas:
Comprar no destino
Como não faz muito frio no Brasil, a oferta de roupas de inverno é muito escassa. Além disso, pelo fato de quase tudo que chega no país ser importado, as peças ficam ainda mais caras do que já são.
Por isso, a depender do seu destino, vale a pena deixar para comprar algumas coisas lá.
A Decathlon na Europa, por exemplo, possui uma variedade maior de produtos do que a loja brasileira. Em alguns destinos dos Estados Unidos, também é possível recorrer aos grandes outlets.
Mas pesquise bem antes de deixar pra comprar tudo de última hora. Dependendo do destino, como acontece na maioria das cidades alpinas, há o risco de só encontrar somente boutiques (e preços) de luxo.
Recorrer a opções quebra-galho
Como eu já falei, o primeiro passo para economizar é aproveitar as peças que você já tem. Não recomendo trocar uma boa segunda pele por uma camiseta de algodão ou uma meia de inverno pela soquete da academia, mas outras substituições podem ser feitas.
Por isso a minha dica é economizar no calçado. As botas de neve são caras, volumosas e sem utilidade no Brasil. A menos que o seu orçamento seja alto ou você vá usar as botas em outras ocasiões, não vale muito a pena comprá-las só para uma viagem.
Para quebrar o galho, a dica é substituir a bota de neve por uma bota de trekking ou por um coturno com solado de borracha alto e tratorado. Para melhorar o fator aquecimento, invista em boas meias e troque a palmilha original por uma palmilha de lã (dá pra encontrar fácil no Mercado Livre).
Claro que o resultado não será o mesmo de um calçado especial, mas dá pra se virar sem que os pés virem picolés.
Verificar se existe serviço de aluguel de roupas
Outra opção viável, dependendo do destino, é alugar algumas peças de roupas – especialmente as últimas camadas.
Na Lapônia finlandesa, sei que a Wild Nordic faz esse serviço – claro que as roupas não são das mais bonitas. Em alguns destinos de neve da América do Sul – como Ushuaia, Bariloche e Vale Nevado -, o aluguel de roupas também é comum.
Porém, vale conferir essa possibilidade antes da viagem. Nos Alpes, por exemplo, praticamente não existe o serviço de aluguel de roupas.
Pesquisar por lojas de segunda mão
Por fim, pesquisar por lojas de segunda mão é mais uma opção de economia que muitas vezes é esquecida.
Quando eu me mudei da Itália para a Finlândia, acabei esquecendo de levar a minha melhor jaqueta de inverno (meu xodó da canadense Aritzia que suporta até -40º C).
Até conseguir que alguém a enviasse para mim, tive que me virar. Comprei uma jaqueta usada e muito boa por apenas € 12 na loja de usados da Cruz Vermelha, em Rovaniemi. Aliás, nos países nórdicos as lojas se segunda mão são muito populares!
Mas, mais uma vez, vale dar uma pesquisada em lojas do tipo antes da sua viagem.
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Tags: Europa Finlândia Inverno na Europa Lapônia Roupas de frio