Produzido em uma região localizada no coração da Toscana, na Itália, o vinho Chianti é um dos produtos mais importantes da enologia do país e o vinho italiano mais conhecido ao redor do mundo.
Fruto de uma tradição secular, a produção de vinho na região vem desde a época dos etruscos e há muitos anos virou meta de turistas que procuram uma experiência enogastronômica para saborear o Chianti em meio ao fascinante cenário toscano de colinas, vilarejos e muitos, muitos vinhedos.
Neste guia, vamos explorar o enoturismo na região de Chianti, na Toscana, destacando informações sobre a produção do vinho, suas tipologias e regulamentações, bem como dicas de passeios em vinícolas, adegas e demais atrações do destino.
Você ainda encontrará sugestões de hospedagem e locomoção e descobrirá qual é a melhor época para visitar a região. Confira todas as dicas abaixo!
A região de Chianti
A região de Chianti está localizada entre as províncias de Florença e Siena, da qual fazem parte diversas cidadezinhas, onde há colinas com vinhedos a perder de vista.
Porém, por ser uma região de cultivo de vinhedos bastante antiga, muito já foi discutido sobre a demarcação geográfica da área de produção do famoso vinho. Para entender melhor, vamos voltar um pouco no tempo.
A vinificação do Chianti aparece em um pergaminho do ano 913. A partir de 1384, começaram a ser instituídas demarcações do território de produção do vinho, que foram oficializadas 4 séculos depois pelo granduque toscano Cosimo de Medici III.
Com o passar dos anos, e principalmente a partir da metade do século 19, quando Florença se tornou a capital da Itália, o vinho se tornou cada vez mais famoso, sendo produzido também fora dos limites da área estabelecida e usando o mesmo nome.
Por esse motivo, em 1924 um grupo de produtores de Chianti formou um consórcio para preservar o vinho, criando uma distinção entre o Chianti Classico (aquele produzido dentro da área delimitada em 1716) e o Chianti (que engloba outras áreas de produção).
A área do Chianti Classico é constituída pelas localidades históricas de Greve in Chianti, Radda in Chianti, Castellina in Chianti, Gaiole in Chianti, Barberino Tavarnelle, uma parte de Poggibonsi, Castelnuovo Berardenga e San Casciano Val di Pesa.
O Chianti Classico é também conhecido pelo símbolo Gallo Nero (“galo preto”), que o distingue do Chianti produzido nas demais áreas.
O vinho com etiqueta DOCG
Tanto o vinho Chianti Classico quando o Chianti possuem a etiqueta DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita). Além de indicar a origem geográfica do vinho, o selo certifica a sua qualidade respeitando rígidas regras de produção muito específicas.
A etiqueta DOCG é a qualificação máxima do setor vinícola, e é atribuída aos vinhos que já foram classificados como DOC (Denominazione di Origine Controllata) por pelo menos dez anos.
Isso significa que cada vinho que possui a etiqueta DOC ou DOCG preserva as peculiaridades da área onde foi produzido, como a composição do terreno, o tipo de uva, a altitude do vinhedo, a sua exposição ao sol e os métodos de produção e envelhecimento utilizados.
Porém, nem todos os vinhos com etiqueta DOC viram DOCG com o passar do tempo. Somente aqueles com prestígio e destaque nacional e internacional em decorrência de fatores naturais, humanos e históricos recebem a certificação. Além disso, os vinhos DOCG passam por um controle mais severo, tanto na fase de produção quanto na fase de engarrafamento.
O vinho Chianti
Foto: Getty Images
A singularidade do vinho Chianti tem origem nas características climáticas e territoriais da região onde ele é produzido. O clima quente do mediterrâneo e a altitude certa dão à uva o choque de temperatura ideal para que ela assuma o equilíbrio entre acidez e doçura que o vinho proporciona.
A principal uva utilizada na produção do Chianti é a variedade Sangiovese, presente em percentuais que podem ir de 70 a 100%. As demais variedades que podem ser encontradas no Chianti são: Canaiolo, Colorino, Cabernet Sauvignon e Merlot (uvas roxas), além de duas variedades de uvas brancas: Malvasia e Trebbiano.
O Chianti jovem tem a cor vermelho rubi, é perfumado e frutado. Na boca tende a ser seco, com taninos moderados e moderadamente alcoólico, sendo ideais para consumo imediato, acompanhando bem carnes grelhadas e massas.
Já o Chianti Superior ou Reserva possui uma porcentagem maior da uva Sangiovese, o que gera um vinho mais complexo e encorpado, ideal para ser envelhecido. Estes vinhos possuem um intenso perfume doce e velho, com sabor seco e taninos marcantes e uma gradação alcoólica que pode variar entre 11,5 e 13%. Os vinhos mais complexos acompanham bem carnes vermelhas, carnes de caça e queijos maduros.
Enoturismo em Chianti
A região de Chianti é um dos destinos preferidos de quem busca o turismo do vinho, conhecido como enoturismo. O enoturismo é uma experiência que combina a degustação dos produtos vinícolas locais com a visita ao território onde são produzidos e ao entendimento da história, da cultura e das tradições da região.
Considerado antigamente como um segmento de nicho, hoje o enoturismo atrai diversos públicos, desde profissionais do setor até curiosos e entusiastas do mundo do vinho.
Com uma série de atividades diferentes, a região de Chianti oferece desde visitas à vinícolas, degustações em cantinas e participação na vindima, até passeios de bicicleta pelas vinhas e, é claro, excelentes experiências gastronômicas.
Resumindo, a rota do vinho em Chianti é uma jornada que combina história, tradição e sabor. Além disso, é possível combinar o passeio pela região com visitas às cidades próximas, como Siena, San Gimignano e Florença.
O QUE FAZER NA REGIÃO DE CHIANTI, NA TOSCANA
Visitar uma vinícola
Foto: Ricasoli
Passar pela região de Chianti sem fazer uma degustação de um dos vinhos mais famosos do mundo é praticamente impossível, já que esta é a atividade mais emblemática do lugar.
Você vai encontrar propriedades agrícolas por todos os lados. A maioria delas realiza visitas guiadas e degustações. Em algumas é necessário fazer uma reserva antes da visita, enquanto outras recebem os visitantes em qualquer momento.
Confira abaixo algumas recomendações de vinícolas para visitar na região de Chianti:
Ricasoli – Castello di Brolio (Gaiole in Chianti)
A história desta vinícola está estritamente ligada à história do vinho Chianti. Foi um membro da família Ricasoli, que é proprietária do local desde 1141, que criou a primeira fórmula ideal para o Chianti Classico, misturando as três uvas em quantidades determinadas para a obtenção do vinho.
Como o próprio nome diz, o local é um castelo, que pode você pode visitar à pagamento. Além disso, é possível visitar os jardins e a cantina.
Existem diversas combinações de tours com durações diferentes, e todos incluem uma degustação no final. Confira todas as possibilidades no site da vinícola.
Castello Di Querceto (Greve in Chianti)
Construído originalmente na época medieval para proteger a região, ainda hoje é possível ver uma parte do muro do período. O edifício atual foi erguido no século 16 e é rodeado pelas belíssimas colinas típicas da região.
Esta propriedade também faz parte da fundação do consórcio do Chianti Classico em 1924 e oferece dois tipos de visitas, que podem incluir também uma tábua de frios para acompanhar a degustação.
Todas as informações sobre os passeios estão disponíveis no site da vinícola.
Istine (Radda in Chianti)
Localizada na área do Chianti Classico, esta pequena vinícola começou a etiquetar seus ótimos vinhos em 2009 e é de gestão familiar. Possui como objetivo a valorização do território em que está inserida e o respeito pela natureza. Desde 2016 possui a certificação de vinhos biológicos (orgânicos), ou seja, não há uso de produtos químicos.
É possível visitar os vinhedos e fazer uma degustação de vários rótulos. Por ser uma realidade menor e mais íntima, é recomendável fazer uma reserva antes da visita. Aqui você encontra os contatos e demais informações.
Antinori (San Casciano Val di Pesa)
Para quem gosta de grandes vinícolas e, em particular, de uma vinícola com uma arquitetura moderna e inovadora, o passeio à Antinori pode interessar. A família Antinori se dedica à produção vinícola há mais de 600 anos, e após uma reforma de 7 anos, em 2012 inaugurou um grande complexo dedicado ao vinho.
Além da visita e da degustação, ainda é possível almoçar no local, que oferece diversas experiências que você confere aqui.
Passear por vilarejos e castelos
Edifícios históricos no borgo de Montefioralle | Foto: Getty Images
Esta região da Toscana é encantadora e muitas vezes parece ser um microcosmo, pois possui diversos castelos, igrejas e vilarejos que dão a sensação de que o tempo parou.
Os vilarejos são pequenos, então dá pra conhecer mais de um no mesmo dia ou combinar com um passeio em uma das vinícolas que sugerimos acima. A ideia é se perder por entre as vielas estreitas, descobrindo os ângulos mais charmosos e se imergindo na atmosfera dos lugares.
Os nossos vilarejos preferidos são: Montefioralle, Greve in Chianti, Radda in Chianti, Castellina in Chianti, Panzano, Volpaia e San Gusmè.
Todos eles ficam localizados em cima das colinas, e muitos possuem também um castelo que abriga uma vinícola. É o caso do famoso Castello di Brolio em Gaiole, o Castello di Volpaia, e o Castello di Verrazzano perto de Greve.
Descobrir as origens etruscas da região
Foto: Museo Archeologico del Chianti
Existem vários resquícios da civilização etrusca que habitou a região de Chianti que podem ser visitados até hoje. É o caso do Tumulo di Montecalvario e do Museo Archeologico del Chianti, em Castellina in Chianti, que reúne materiais arqueológicos encontrados em toda a região toscana.
Foram os etruscos que introduziram, inclusive, o plantio da videira e o cultivo das vinhas, influenciando ativamente o futuro da região de Chianti como a conhecemos hoje.
Fazer um passeio de bicicleta
Ciclistas na competição Eroica | Foto: Getty Images
Para quem gosta da ideia de explorar um lugar pedalando, toda a Toscana é voltada para o cicloturismo, principalmente a região de Chianti.
Há diversos percursos de bicicleta, com vários níveis de dificuldade e duração diferentes. Em todos eles você pedala por paisagens naturais que parecem pinturas, vilarejos medievais e castelos, vinhedos e bosques, além de belos pontos panorâmicos entre as colinas.
É possível fazer um tour de algumas horas, uma excursão de um dia ou toda a viagem pela região de Chianti de bicicleta. A maioria dos passeios usa bicicletas elétricas e inclui também paradas em vinícolas da região.
Além disso, todos os anos, desde 1997, em meados de outubro acontece o Eroica. Esse famoso evento ciclístico percorre a região de Chianti e possui itinerários diversos e sinalizados que podem ser feitos durante todo o ano.
Visitar San Gimignano
Foto: Getty Images
San Gimignano é uma pequena jóia cravada entre as colinas toscanas e circundada por muralhas do século 13. É conhecida também como a “Manhattan medieval” por conta das 72 torres de pedra construídas na cidade, uma forma das famílias aristocráticas da época mostrarem poder e riqueza.
Atualmente com 14 torres ainda em pé, San Gimignano é uma das cidadezinhas mais visitadas da Toscana. E, apesar da quantidade de turistas, ainda vale a pena passear por suas praças, subir em uma das torres e provar o delicioso Vernaccia, o vinho branco citado até por Dante na Divina Comédia.
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Visitar Siena
Foto: Getty Images
Siena é considerada uma das cidades medievais mais bem preservadas de toda Europa, e recebe todos os anos o famoso Palio di Siena, a corrida de cavalos que desde 1633 toma a praça central da cidade durante dois dias, em julho e em agosto.
Além do Palio, a principal praça de Siena, a Piazza del Campo, abriga importantes edifícios e possui um interessante formato de concha. A Torre del Mangia oferece uma linda vista a 360 graus da cidade, mas antes de admirá-la é necessário subir cerca de 400 degraus.
Outra atração imperdível na cidade é o monumental Duomo di Siena. O complexo gótico possui uma grandiosa fachada de mármore e um interior impressionante, com as colunas em preto e branco e as abóbadas repletas de estrelas.
Em frente ao Duomo está a Santa Maria della Scala, um antigo hospital para peregrinos que percorriam a Via Francigena. Hoje, o local é um complexo de museus com diversos salões históricos e espaços de exposições temporárias.
ONDE SE HOSPEDAR NA REGIÃO DE CHIANTI
Foto:Agriturismo San Sano
Ficar hospedado na região de Chianti significa aproveitar tudo o que a natureza e a vida do campo tem a oferecer: silêncio, tranquilidade, simplicidade, culinária caseira com produtos locais, além de vinhos de excelente qualidade.
A grande vantagem da região é que ela não é tão grande e os deslocamentos entre os lugares não passam de meia hora de carro. Isso significa que você pode escolher um local como base e explorar toda a área a partir dali.
Nós sugerimos fazer como base as localidades de Greve in Chianti, Castellina in Chianti ou San Casciano in Val di Pesa por oferecerem mais opções e pela localização estratégica.
Toda a região oferece diversos tipos de hospedagem, e ao redor dos vilarejos é possível encontrar muitas ofertas de bed & breakfast, agriturismos e vilas luxuosas.
Nós recomendamos particularmente a hospedagem em um dos agriturismi, que são estabelecimentos agrícolas que também oferecem acomodações aos turistas. Estes locais privilegiam sistemas produtivos menores e a valorização do território, além da integração com o ambiente que os circunda.
Muitos agriturismos possuem também um restaurante onde servem pratos da tradição regional com produtos a “KM 0”, ou seja, produtos locais.
Esta é uma forma de ter uma experiência autêntica dentro do contexto rural da região de Chianti.
Confira abaixo algumas sugestões de hospedagem que selecionamos na região:
Econômico
Bom custo-benefício
Conforto
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COMO SE LOCOMOVER EM CHIANTI
A melhor forma de chegar e se locomover pela região de Chianti é de carro. A Via Chiantigiana SR222 liga Florença a Siena passando por Greve in Chianti e atravessando as colinas da região. Ao percorrê-la você pode fazer os desvios que quiser e ir parando nos vilarejos que deseja conhecer.
Como mencionamos anteriormente, há também a possibilidade de percorrer a Via Chiantigiana e seus desvios de bicicleta, e também de vespa.
Infelizmente o transporte ferroviário não é muito amplo na região de Chianti, e é possível chegar de trem somente até a cidade de Poggibonsi.
Há a opção de usar o ônibus (operado pela Autolinee Toscanee), que faz paradas em todas as cidades e vilarejos. Porém, os eventuais atrasos e os horários do fim do serviço não são muito convenientes para quem está viajando, o que pode prejudicar a experiência.
Em conclusão, a melhor opção de locomoção em Chianti é o carro. No entanto, é necessário estar atento à ingestão de álcool. Nós sugerimos fazer essa viagem em dupla revezando a direção para que todos possam aproveitar as delícias da região de Chianti de forma responsável.
Já para cotar as tarifas das melhores locadoras na Itália e conseguir um bom desconto nas reservas, a nossa recomendação é a Rental Cars.
Excursões guiadas
Quem não quer se preocupar com os deslocamentos, também pode apostar em um dos diversos serviços de excursões (compartilhadas ou privadas) partindo das principais cidades toscanas, como Florença e Siena.
A opção, é claro, costuma ser mais engessada e menos adaptável para quem deseja conhecer a região para além do turismo óbvio. Ainda assim, é uma excelente pedida para quem tem pouco tempo e não quer se preocupar com nada.
Na nossa parceira Get Your Guide você pode conferir e comparar algumas opções de passeios oferecidas na região:
A MELHOR ÉPOCA PARA CONHECER A REGIÃO DE CHIANTI
A região de Chianti é sem dúvidas um destino que vale a pena visitar em todas as épocas do ano.
Contudo, há períodos em que a região está em festa, como é o caso do período da vindima, que ocorre no início do outono, sempre em meados de setembro, e é a melhor época para aproveitar o ponto alto do enoturismo. Esta é uma época em que a região recebe outros eventos importantes, como a corrida turística de bicicletas Eroica.
A primavera é também uma época boa para conhecer a região, que neste período assiste ao despertar da natureza depois do inverno com vários eventos entre março e junho, quando toda a região volta a se perfumar de azeite e vinho e as temperaturas ficam ideais para aproveitar o ar livre.
No verão as colinas de Chianti podem ser um bom refúgio das altas temperaturas das cidades, porém é possível que você encontre lugares lotados de turistas.
Já durante o inverno os vinhedos descansam, mas os eventos regados a vinho continuam com a chegada do fim do ano e dos deliciosos mercadinhos de natal.
QUANTO TEMPO RESERVAR PARA CONHECER CHIANTI?
A região de Chianti não é muito extensa, mas há muito o que descobrir entre as suas colinas, vilarejos medievais e barris de vinho.
Um final de semana é um bom período para quem quer conhecer um pouco da região e saboreá-la com calma, visitando vinícolas e experimentando produtos locais.
Já para quem deseja ter uma experiência mais imersiva na região, recomendamos separar 3, 4 ou até 5 dias de viagem. Tudo vai depender da finalidade da sua visita e de quanto tempo quer passar na região de Chianti.
Se o seu tempo for limitado, é possível também passar somente 1 dia na região e ter um gostinho do famoso vinho fazendo uma visita à uma vinícola, por exemplo.
Além disso, por ser uma região bastante próxima a cidades famosas como Florença e Siena, uma boa ideia é elaborar um roteiro que inclua também uma passagem pelas belas colinas de Chianti.
Independente da duração da sua estadia, a região de Chianti com certeza vai encantar os seus sentidos através das paisagens pitorescas e dos vinhos excepcionais.
Conheça Chianti!
A região de Chianti é um tesouro enológico, histórico e cultural e destino de amantes de vinho do mundo todo. Com a sua paisagem deslumbrante, a região oferece uma oportunidade única aos seus visitantes, que podem mergulhar na cultura toscana explorando séculos de história em seus vilarejos medievais e apreciando um dos vinhos mais famosos do mundo.
Uma mistura perfeita de natureza, história e tradição vinícola e gastronômica é o que resume esta região inesquecível!
