Que o Brasil é especialista em belezas naturais não é novidade. E existe um lugar que vem conquistando cada vez mais espaço dentro do ecoturismo, graças ao cenário único com que presenteia seus visitantes. Fazer um roteiro no Jalapão é se conectar com a natureza em seu estado mais puro. Indo além, é torná-la protagonista absoluta da experiência.
Por falar em conexão, a humana também se faz presente. Ela está no artesanato típico, nas ótimas prosas com a comunidade, na simpatia dos moradores. Imagine, em uma só viagem, encontrar várias vezes aquela sensação acolhedora de casa de vó. Pois é!
Você já deve ter percebido que tenho um carinho especial por esse paraíso do Cerrado. Agora, para que se junte a mim no time dos apaixonados pelo destino, reunimos as principais informações sobre ele.
Neste artigo, descubra dicas para organizar uma expedição pelo Jalapão da melhor forma e sem perrengues. Confira!
ONDE FICA O JALAPÃO
O Jalapão — ou Parque Estadual do Jalapão — é uma área com mais de 30 mil km², localizada no Tocantins. Ela fica no leste do estado, a cerca de 300 quilômetros de distância da capital, Palmas.
Por conta da grande extensão territorial que ocupa, a região engloba vários municípios. No entanto, suas principais cidades (que concentram a maioria do turismo) são: Ponte Alta do Tocantins, Mateiros e São Félix do Tocantins.
Veja onde fica o Jalapão no mapa:
Como chegar e se locomover
Antes de entender a dinâmica do itinerário é importante saber que, quase sempre, ele começa em Palmas.
A capital do Tocantins é responsável por receber os viajantes que tem o Jalapão como objetivo. É ali que você provavelmente vai pernoitar no dia de chegada, antes de partir para o parque estadual na manhã seguinte.
A principal porta de entrada da cidade é o Aeroporto Brigadeiro Lysias Rodrigues. O lugar recebe voos diretos de São Paulo, Brasília, Goiânia e Recife. Se estiver vindo de outra parte do país, será preciso fazer conexão.
Saindo de Palmas
Uma vez em Palmas, a viagem segue de carro, por conta própria ou com agências de turismo. Cabe destacar que essa é uma escolha que deve ser planejada com cuidado.
Apesar de espetacular, o Jalapão é um destino complexo em termos de deslocamento. Isso porque suas estradas não são pavimentadas, exigindo o uso de veículos com tração nas quatro rodas. Ou seja, a não ser que tenha muita experiência com carros 4X4 e percursos difíceis, o recomendado é investir na companhia de um guia/motorista conhecedor da área.
A baixa sinalização e o sinal escasso de celular são outros pontos a serem considerados na decisão. Indo sozinho, há o risco de se perder ou de ter dificuldades no caso de um atolamento, por exemplo.
Indo com uma agência
Não são poucas as agências de viagens que oferecem roteiros completos pelo Jalapão, cada uma com características próprias. O que todas têm em comum é a inclusão de transporte adequado, motorista e guia durante o período de expedição.
O ponto positivo do serviço, com certeza, é a segurança e a praticidade de não se preocupar com deslocamentos a partir da capital.
Normalmente, a rota é feita em automóveis 4×4, de forma compartilhada ou privativa (dependendo do pacote que adquirir). No primeiro dia de aventura, o guia lhe busca no seu hotel em Palmas, tornando a deixá-lo ali no fim da experiência.
Essa forma de locomoção foi minha escolha. Fiz tudo com a empresa Jalapão Expedições e todas as horas de estrada foram bem tranquilas.
Inclusive, vale citar que no Jalapão a gente passa muito tempo dentro do carro, indo de uma atração para outra. Por isso a questão do transporte é tão importante.
Indo por conta própria
Tem um veículo preparado para fortes emoções e tira de letra a direção off-road?
Saindo de Palmas e optando por ir sozinho, você deve pegar a TO-050 em direção a Porto Nacional. De lá, continue pela TO-255 para Ponte Alta do Tocantins. O caminho tem aproximadamente 190 km e te leva até uma espécie de entrada para o Parque. Esse trajeto é feito no asfalto, mas depois dele é só estrada de terra.
Para chegar em Mateiros, cidade que fica próxima a boa parte dos atrativos e hospedagens, siga na TO-255.
Definindo Ponte Alta ou Mateiros como base, é possível seguir de forma autônoma também por algumas atrações (outras só podem ser visitadas com a presença de um guia); ou contratar passeios diários com profissionais locais.
E não se esqueça: tenha um mapa offline sempre junto com você e redobre a atenção para evitar imprevistos.
QUANDO IR: MELHOR ÉPOCA PARA VISITAR O JALAPÃO
Acredite, o Jalapão pode ser aproveitado em qualquer época. No entanto, suas duas estações bem marcadas provocam diferenças ao longo do ano.
O período seco abraça os meses de maio a outubro. É quando os dias são quentes, o pôr do sol mais deslumbrante, e quando as águas dos fervedouros estão cristalinas. Setembro, em particular, ainda traz consigo a beleza do capim dourado, já que é o mês da colheita desta matéria-prima para o artesanato.
A estação chuvosa vai de novembro a abril, tornando a temperatura mais amena. Nesta época, a vegetação está super bonita e as águas, tanto dos fervedouros quanto das cachoeiras, tendem a ficar menos geladas. Como desvantagem, alguns fervedouros podem adotar coloração turva em dias de chuvas fortes e nuvens podem prejudicar a visibilidade do nascer/pôr do sol.
Com relação às chuvas propriamente ditas, elas não são tão impeditivas. Ali, é comum que chova bastante em alguns momentos, mas não de maneira longa ou contínua. Pode acontecer, claro, mas não é frequente que você perca um dia inteiro de programação por este motivo, por exemplo.
Melhor época para dirigir
Quando se trata da melhor época para dirigir, tenha em mente que ambos os períodos são desafiadores. Quando chover forte, não tente guiar o carro. É legal esperar o chão secar um pouco antes de dar continuidade à rota. Para ter ideia, no primeiro dia da minha viagem, em um janeiro chuvoso, vi acontecer um atolamento em série. O Jalapão é bruto mesmo!
Ao contrário do que pode parecer, os riscos não diminuem na seca, pelo contrário. Como a areia da estrada é fofa, a tração se torna imprescindível.
ONDE SE HOSPEDAR NO JALAPÃO
O primeiro passo para organizar a hospedagem no Jalapão é definir o formato do seu roteiro. Você pretende fazer uma cidade ou área de base? Ou a ideia é rodar o Parque, fazendo um percurso itinerante com paradas noturnas em diferentes municípios?
As duas opções acima são uma possibilidade tanto para quem vai de maneira independente quanto por agências. A Korubo, por exemplo, é uma empresa que trabalha com o conceito de glamping e adota um lugar fixo para as estadias. Já outras agências preferem um percurso no estilo circuito, com pernoites em pousadas pelo caminho (as diárias já estão incluídas no serviço).
Eu optei pela segunda alternativa e não me arrependi. Tive a impressão de que assim o roteiro foi otimizado, pois a proposta era sempre seguir em frente — sem necessidade de deslocamentos diários de ida e volta a um ponto específico.
Seja qual for sua escolha, saiba que a maioria das hospedagens se concentra no entorno daquelas mesmas cidades que já vimos: Ponte Alta, Mateiros e São Félix. A variedade de pousadas e campings não é grande, porém conforto e atendimento acolhedor são constantes.
Veja algumas dicas de onde ficar:
Ponte Alta do Tocantins
Mateiros
São Félix do Tocantins
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O QUE FAZER NO JALAPÃO: ROTEIRO PARA 4 OU 5 DIAS
Admirar-se com dunas de tom alaranjado; descobrir a delícia que é nadar em fervedouros; se surpreender com um céu estrelado como poucas vezes viu; lavar a alma nas cachoeiras; visitar comunidades quilombolas. Chega a ser difícil enumerar a quantidade de encantos que um roteiro no Jalapão proporciona.
Igualmente complicado é definir uma quantidade de tempo exata para a viagem, uma vez que sobram tesouros. Mas uma coisa é fato: ela não combina com pressa.
Por isso, para garantir presença em todas as atrações emblemáticas (aquelas quase “obrigatórias”), reserve pelo menos 4 dias inteiros. Para efeito de contagem, não considere o dia de chegada em Palmas e nem o de partida (a não ser que o voo esteja marcado para a noite).
Caso sobre tempo na agenda, aí é só explorar outros recantos, de acordo com suas preferências. Uma ideia, aliás, é estender a expedição até as Serras Gerais.
A seguir, você encontra nossa sugestão de roteiro básico, porém completinho, para uma primeira visita ao Jalapão. Ele é uma indicação pessoal (foi o que eu segui), então fique à vontade para adaptá-lo como achar melhor. Bora?
Roteiro no Jalapão: dia 1
Lagoa do Japonês
Pegando a estrada em Palmas logo cedo, para Ponte Alta, é possível chegar na Lagoa do Japonês até o fim da manhã. Está aí uma baita maneira de ser apresentado às paisagens que lhe aguardam, porque o ambiente é um verdadeiro oásis.
A lagoa tem águas cristalinas, de cores que variam de verde a azul-turquesa. Refrescar-se por ali é mais do que recomendado, assim como curtir a perfeita visibilidade (e os peixinhos). Para isso, a estrutura do espaço disponibiliza coletes e snorkel. Você também pode ir até a gruta que fica na parte mais funda.
Existe, ainda, um restaurante na propriedade. De clima rústico, ele oferece comidas típicas, petiscos e drinks.
Morro da Pedra Furada
Ao pesquisar algo sobre o Jalapão, talvez você já tenha visto fotos da Pedra Furada. O ponto turístico é um queridinho e com razão. A formação rochosa encrustada no Cerrado cria um panorama sem igual e, ao mesmo tempo, nos faz sentir a grandiosidade do que está em nossa volta.
Quer intensificar o efeito deste cenário esculpido pelo clima e pelo tempo? Então procure visitá-lo perto do horário do pôr do sol. O entardecer combinado com a vista é de tirar o fôlego.
Roteiro no Jalapão: dia 2
Cânion Sussuapara
Depois de Ponte Alta, é hora de seguir rumo a Mateiros. Pelo caminho, logo dá para ter uma amostra de como os atrativos jalapoeiros são singulares entre si. Quem comprova isso é o Cânion Sussuapara, composto por paredões naturais formados em uma vereda e rodeados por vegetação. Ali, água escorrega pelas fendas continuamente e uma cascata é encontrada ao fundo.
Para chegar, é necessário percorrer uma trilha fácil e curta (cerca de 200 metros). Tome cuidado apenas para não escorregar ao caminhar pelos pedaços molhados.
Ah, e o cânion guarda mistérios, viu?! Segundo lendas, o lugar tem o poder de realizar pedidos. Basta pegar uma pedrinha caída ao chão, fazer seu desejo, e colocá-la em cima de um dos paredões. Não custa tentar, né?
Comunidade Quilombola Rio Novo e Prainha do Rio Novo
A Comunidade Quilombola Rio Novo é uma escolha bacana para almoçar e para fazer um valioso turismo de base comunitária. Trocar ideias com os moradores dali é entrar em contato com o lado humano e social do Jalapão, que é tão profundo quanto o natural. Aproveite para provar uma culinária regional preparada de forma caseira e com um tempero caprichado.
E se a intenção for relaxar após a refeição, mais a frente fica a Prainha do Rio Novo, refrescante e de água doce. Ao nadar, só fique atento à correnteza, que às vezes pode estar forte (prefira não se afastar muito da beira).
Dunas do Jalapão
À tarde e fechando o dia de passeios, seja apresentado às Dunas do Jalapão. A indescritível paisagem mescla uma vista surreal — que une o verde da vegetação a lagos espaçados — com montanhas de areia dourada. Se você assistiu ao pôr do sol da Pedra Furada e acha que já viu tudo, não se engane. O entardecer nas dunas é tão bonito quanto.
O motivo da existência desta preciosidade é a erosão de serras da área. O caminho até ela requer uma certa caminhada, mas sem grandes dificuldades. Chegando, é proibido escorregar ou descer pelas laterais dos morros. A medida é para manter o atrativo preservado.
Roteiro no Jalapão: dia 3
Serra do Espírito Santo ou Morro do Jacurutu
Está disposto a fazer uma trilha para admirar o céu estrelado e, de quebra, acompanhar um nascer do sol inesquecível? Então dá para começar o dia bem cedo (por volta das 4:00), subindo a Serra do Espírito Santo. Apesar de curta (uns 500 metros), a dificuldade da trilha é considerada de média a alta. Isso por causa de seu formato inclinado e trechos íngremes.
Uma alternativa de subida mais leve é ao Morro do Jacurutu. Ainda que a andança até o topo tenha a mesma distância da Serra, o percurso é tranquilo. Lá em cima, a alvorada e um ângulo de 360° abrem a manhã.
Cachoeira da Formiga
Sem dúvidas, a Cachoeira da Formiga foi a cachoeira mais bonita que já vi na vida. A pureza da água, o tom verde-esmeralda, a temperatura agradável: tudo nela é impressionante. O que torna impossível a missão de não perder a noção das horas entre um mergulho e outro.
Por ser quase unânime dentro dos roteiros no Jalapão, a atração atrai uma quantidade considerável de turistas. Em épocas de maior movimento, como em feriados prolongados e finais de semana, tente chegar o mais cedo que puder para curti-la com calma.
Fervedouro das Macaúbas
Enfim, os fervedouros! Não há quem saia do Jalapão sem viver a experiência de conhecê-los. O primeiro contato com estas piscinas naturais é diferente de qualquer outra coisa. Nelas você sente uma pressão vinda da água e simplesmente não consegue afundar.
Existem mais de uma dezena de fervedouros abertos para visitação no Jalapão, com tamanhos, cores e intensidades diversas. Um dos maiores é o Fervedouro das Macaúbas.
Ao visitá-lo, existe um tempo estipulado para ficar dentro da água. Isso porque as piscinas comportam apenas alguns grupos por vez. Mas aí vai uma dica: chegando cedo, é muito provável que você e seu grupo consigam aproveitar sem pressa, já que o lugar tende a ficar vazio.
Comunidade Quilombola do Prata
A Comunidade Quilombola do Prata é outra oportunidade para se aprofundar na cultura, nas tradições e na arte dos moradores da região. Além de almoçar na comunidade, ainda dá para comprar ali lembrancinhas, artesanatos com capim dourado e iguarias gastronômicas (doce de buriti, por exemplo).
Fervedouro Bela Vista
Mais um fervedouro para a lista, porque, com certeza, você ficará com vontade de conhecer outro. O Bela Vista é considerado um dos mais bonitos do Jalapão e aquele que tem maior estrutura (há restaurante, loja e hospedagem dentro da propriedade). Também é lá que fica um deck de madeira superior, que facilita aquelas famosas fotos tiradas de cima da nascente.
Roteiro no Jalapão: dia 4
Fervedouro do Alecrim
Para completar a descoberta dos fervedouros, vale a pena incluir o Alecrim na viagem. A essa altura do campeonato você já notou que cada uma destas joias tem seu charme, né? O dele está na coloração da água, que se difere por ser de um verde intenso.
Por estar pertinho do centro de São Félix, o Fervedouro do Alecrim é bem popular. Aqui, vale a mesma dica de tentar chegar cedo para evitar o alto fluxo de pessoas.
Cachoeira das Araras
A Cachoeira das Araras funciona super bem para uma despedida das águas do Jalapão. Trata-se daquele tipo de lugar bucólico capaz de recarregar energias. Se quiser almoçar antes de pegar a estrada de volta para Palmas, por lá tem restaurante. Contudo, se estiver em uma viagem independente, talvez seja preciso fazer reserva com antecedência.
Morro da Catedral
Visto da estrada mesmo, o imponente Morro da Catedral parece nos dar tchau depois de tudo o que vivemos e vimos. E já nos deixa com um gostinho de quero mais. Ao avistá-lo, compensa parar para alguns cliques que simbolizam o momento.
Roteiro no Jalapão: dia 5
Fervedouros extras
Tem mais um dia disponível para explorar o destino? Use-o sem pensar duas vezes. Você pode incluir um espaço extra para mais fervedouros (algumas sugestões: Fervedouro Buriti, Buritizinho, Fervedouro do Ceiça e Encontro das Águas). Para facilitar a logística de locomoção, não precisa deixá-los por último. Procure incluir este dia entre a programação do dia 2 e do dia 3.
Taquaruçu
Outra opção é conhecer um pouco de Taquaruçu, município que fica no caminho tanto de ida quanto de volta do Jalapão. Na cidade não faltam cachoeiras belíssimas, como a do Escorrega Macaco e a da Roncadeira. Atividades de ecoturismo também são frequentes, tanto que ali fica a maior tirolesa da região norte do Brasil.
Baixe o mapa
Gostou das sugestões? Então baixe o mapa do roteiro e acompanhe todas as dicas durante a sua viagem:
Agora que sabe como planificar a aventura, é só desfrutar de cada minuto do seu roteiro no Jalapão. Com a certeza de que este lugar tem um quê de transformador. Que sua vivência seja muito especial! Bom passeio!